segunda-feira, 18 de julho de 2016

LIBRAS, QUE LÍNGUA É ESSA?

LIBRAS, QUE LÍNGUA É ESSA?
 Desmistificando a Língua Brasileira de Sinais Diversos autores, através de suas pesquisas na área, vêm mostrando claramente que as Línguas de Sinais podem ser comparadas em termos de complexidade e expressividade a quaisquer línguas orais, mesmo se pertence a uma modalidade diferente, são visual-espaciais, ou seja, são estabelecidas pelo canal visual (visão) e utilizam o espaço para estabelecer a comunicação entre os seus interlocutores. As pessoas usuárias da Libras, sejam surdas ou ouvintes, podem estabelecer discussões sobre diferentes temas como: filosofia, política, esportes, literatura e da mesma forma, utilizá-la com função estética para recitar poesias, fazer teatro, historias, humor entre outras. A diferença da modalidade das línguas de sinais determina o uso de mecanismos sintáticos específicos diferentes dos utilizados nas línguas oral-auditivas, por exemplo, na língua portuguesa. Uma dos mitos mais famosos com relação às línguas de sinais é a de que são Universais, visto que a universalidade ancora-se na ideia de ser esta língua um código que os surdos utilizam para se comunicar e, muitas vezes transmitir fatos da língua portuguesa, podendo até comunicarse em qualquer lugar do mundo. Esse mito não é verídico, visto que do mesmo modo que as pessoas falam diferentes línguas orais no mundo, também as pessoas surdas em qualquer parte do mundo falam diferentes línguas de sinais. O surgimento de uma língua em determinada comunidade envolve aspectos culturais e de interesses comuns, por isso os surdos brasileiros não podem falar, por exemplo, ASL – língua de sinais americana, nossa cultura e interesses nos diferenciam. Mesmo o Brasil e Portugal que possuem a mesma língua oficial oral, no caso dos surdos nascidos nesses países, suas línguas de sinais são diferentes, os surdos portugueses utilizam a LSP – Língua de Sinais Portuguesa e nossos surdos usam a Língua Brasileira de Sinais – Libras, do mesmo modo Estados Unidos e Inglaterra. LETRAS LIBRAS|16 No Brasil também temos registro de uma língua de sinais utilizada pelos índios UrubusKaapor, que vivem na região amazônica. Muitas pessoas acham que as línguas de sinais são apenas gestos e mímicas atribuindo a elas um caráter de artificialidade, mas ao contrário, são línguas naturais, pois evoluíram a partir de um grupo cultural, os surdos. Como exemplo de línguas artificiais temos o “esperanto1 ” (língua oral) e o “gestuno2 ” (língua de sinais), essas línguas realmente foram criadas com um intuito apenas de estabelecer uma comunicação internacional, funcionando como língua auxiliar ou franca, planejada para fins comunicacionais apenas. Quando pensamos em termos históricos, acredita-se que as línguas de sinais possuem origens ou raízes nas línguas orais. São poucos os registros a respeito dessas origens, mas em Wilcox & Wilcox (1997) encontramos argumentos de que há dois tipos de evidência que mostram o uso de forma natural das línguas de sinais pelos surdos. O primeiro vem de uma pequena comunidade próxima a Massachusetts, Estados Unidos, chamada Martha’s Vineyard, uma pequena ilha comunitária com elevado índice de hereditariedade de surdez, observado entre os séculos XVII e meados do século XX. O segundo tipo de evidência vem da França, um surdo, chamado Pierre Desloges, relata no livro Observations of a Deaf-Mute, em 1799, sobre a própria língua de sinais que utilizava e a defendia contra aqueles que desejavam bani-la. A Língua de sinais americana bem como a língua brasileira de sinais tiveram suas origens na língua francesa de sinais. Nos Estados Unidos, o americano Thomas Hoppins Gallaudet sensibilizado com uma garotinha surda, Alice Cogswell de 8 anos, viaja a Europa em busca de novos métodos para ajudar no desenvolvimento educacional desta menina, visto que não confiava muito nos métodos para oralizar pessoas surdas. 1 Em 1887, o russo Ludwik Lejzer Zamenhof, oftalmologista e filosofo, publicou a versão inicial do idioma com o objetivo de criar uma língua de aprendizagem muito fácil como língua franca inernacional para os povos de todos os cantos do mundo. Sabe-se que nenhuma nação adotou oficialmente o esperanto como língua, mas registra-se um uso por uma comunidade de mais de 1 milhão de falantes. Atualmente é a língua auxiliar planejada mais falada no mundo. (Santiago, 1992) 2 O nome gestuno tem origem italiana e significa “Unidade em língua de sinais”. Foi citada pela 1ª vez em 1951 no Congresso Mundial na Federação Mundial de Surdos. Em meados da década de 1970, o comitê da Comissão de Unificação dos Sinais propunha um sistema que unificasse os sinais mais compreensíveis, que facilitassem o aprendizado, a partir da integração das diversas línguas de sinais. (Moody, 1987; Supalla & Webb, 1995; Jones, 2001) LETRAS LIBRAS|17 No Brasil, em 1855, um surdo francês, Ernest Huet, em comum acordo com o imperador Dom Pedro II, chega ao país e cria a primeira escola nacional de surdos, atualmente o Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES na cidade do Rio de Janeiro. As línguas de sinais são rodeadas no imaginário popular de vários mitos. Outro fato relevante em que se acredita é que estas línguas são ágrafas, ou seja, não possuem escritas. Na verdade até pouco tempo, as línguas de sinais não possuíam escrita, mas a ideia de representá-la graficamente surgiu em 1974, por Valerie Sutton, uma coreógrafa americana que fez uma espécie de transcrição dos sinais para utilizá-los com os passos de dança, isto de imediato chamou a atenção da comunidade científica dinamarquesa das línguas de sinais. Iniciam-se, então, pesquisas na área e, a partir desde momento, acontece o primeiro encontro de pesquisadores, nos EUA organizado por Judy Shepard-Kegel, e dele um grupo de surdos adultos aprendem a escrever os sinais do Sign Writing, a escrita dos sinais. No Brasil o sistema ainda é um experimento e foi, a partir de 1996, que um grupo de pesquisa, liderado por Antônio Carlos da Rocha Costa, na Pontifícia Universidade Católica - PUC de Porto Alegre, começou sua caminhada para o desenvolvimento da escrita da língua de sinais brasileira e futuro reconhecimento legal.

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