terça-feira, 9 de agosto de 2016

As Categorias Gramaticais na LIBRAS

 As Categorias Gramaticais na LIBRAS


As categorias gramaticais ou parte do discurso são os paradigmas ou classes de palavras de uma língua. Todas língua possui palavras que são classificadas como fazendo parte de um tipo, classe ou paradigma em relação as seus aspectos morfológicos, sintáticos, semânticos e pragmáticos. Assim, na língua portuguesa, por exemplo, os substantivos são palavras que possuem desinência de gênero e número, são as palavras-chave de um sintagma nominal que pode ter a função de sujeito ou de objeto.
Embora todas as línguas não possuam as mesmas classes gramaticas e muitas línguas não possuem algumas, isso não implica carência ou inferioridade, as línguas tem formas diferenciadas para expressar os conceitos. Por exemplo, na LIBRAS não há artigos, em inglês somente este uma forma para para artigo definido: “the”.
As outras categorias, que existem na língua portuguesa, também existem na LIBRAS. Aqui serão apresentadas algumas e estudos mais aprofundados destas e de outras, que não serão mencionadas, já estão sendo feitos:
5.1. Verbo na LIBRAS
Basicamente na LIBRAS, há dois tipos de verbo:
a) verbos que não possuem marca de concordância, embora possam ter flexão para aspecto verbal;
b) verbos que possuem marca de concordância.
Quando se faz uma frase com verbos do primeiro grupo, é como se eles ficassem no infinitivo, por exemplo:
(1) EU TRABALHAR FENEIS “eu trabalho na FENEIS”;
(2)EL@ TRABALHAR FENEIS “ele/a trabalha na FENEIS”;
(3) EL@ TRABALHAR FENEIS “eles/as trabalham na FENEIS.
Os verbos do segundo grupo podem ser subdivididos em:
1. Verbos que possuem concordância número-pessoal: a orientação marca as pessoas do discurso. O ponto inicial concorda com o sujeito e o final com o objeto. Exemplos
:
(4) 1sPERGUNTAR2s “eu pergunto a você”;
(5) 2sPERGUNTAR1s “você me pergunta”
2. Verbos que possuem concordância de gênero: são verbos classificadores porque a eles estão incorporados, através da configuração de mão, uma concordância de gênero: PESSOA, ANIMAL ou COISA. Exemplos:
(6) pessoaANDAR (configuração da mão em G);
(7) veículoANDAR/MOVER (configuração da mão em 5 ou B, palma para baixo)
(8) animalANDAR (configuração da mão em 5 ou 5, palma para baixo);
3. Verbos que possuem concordância com a localização: são verbos que começam ou terminam em um determinado lugar que se refere ao lugar de uma pessoa, coisa, animal ou veículo, que está sendo colocado, carregado, etc. Portanto o ponto de articulação marca a localização. Exemplos:
(9) COPO MESAk coisa arredondadaCOLOCARk;
(10) CABEÇAk ATIRARk.
Estes tipos de concordância podem coexistir em um mesmo verbo. Assim, há verbos que possuem concordância de gênero e localização, como o verbo COLOCAR acima; e concordância número-pessoal e de gênero, como o verbo DAR. Concluindo, pode-se esquematizar o sistema de concordância verbal, na LIBRAS, da seguinte maneira:
1. concordância número-pessoal => parâmetro orientação
2. concordância de gênero e número => parâmetro configuração de mão
3. concordância de lugar => parâmetro ponto de articulação
5.1.1. Classificador na LIBRAS
Nas línguas do mundo as classificações podem se manifestam de várias formas. Podem ser:
  • uma desinência, como em português, que classifica os substantivos e os adjetivos em masculino e feminino: menina - menino;
  • pode ser uma partícula que se coloca entre as palavras;
  • e ainda pode ser uma desinência que se coloca no verbo para estabelecer concordância.
Ao se atribuir uma qualidade a uma coisa como, por exemplo: arredondada, quadrado, cheio de bolas, de listras, etc isso representa um tipo de classificação porque é uma adjetivação descritiva, mas isso não quer dizer que seja, necessariamente, um classificador como se vem trabalhando este conceito nos estudos lingüísticos.
Para os estudiosos deste assunto, um classificador é uma forma que existe em número restrito em uma língua e estabelece um tipo de concordância.
Na LIBRAS, os classificadores são configurações de mãos que, relacionadas à coisa, pessoa e animal, funcionam como marcadores de concordância.
Assim, na LIBRAS, os classificadores são formas que, substituindo o nome que as precedem, pode vir junto ao verbo para classificar o sujeito ou o objeto que está ligado à ação do verbo. Portanto os classificadores na LIBRAS são marcadores de concordância de gênero: PESSOA, ANIMAL, COISA.
Os classificadores para PESSOA e ANIMAL podem ter plural, que é marcado ao se representar duas pessoas ou animais simultaneamente com as duas mãos ou fazendo um movimento repetido em relação ao número.
Os classificadores para COISA representam, através da concordância, uma característica desta coisa que está sendo o objeto da ação verbal, exemplos:
(11) COPO MESAk coisa arredondadaCOLOCARk;
(12) 2 CARRO veículoANDAR-UM-ATRÁS-DO-OUTRO (md)
veículoANDAR (me)
(13) M-A-R-I-A A-L-E-X pessoaPASSAR-UM-PELO-OUTRO (md)
pessoaPASSAR (me)
Não se deve confundir os classificadores, que são algumas configurações de mãos incorporadas ao movimento de certos tipos de verbos, com os adjetivos descritivos que, nas línguas de sinais, por estas serem espaço-visuais, representam iconicamente qualidades de objetos. Por exemplo, para dizer nestas línguas que “uma pessoa está vestindo uma blusa de bolinhas, quadriculada ou listrada”, estas expressões adjetivas serão desenhadas no peito do emissor, mas esta descrição não é um classificador, e sim um adjetivo que, embora classifique, estabelece apenas uma relação de qualidade do objeto e não relação de concordância de gênero: PESSOA, ANIMAL, COISA, que é a característica dos classificadores na LIBRAS, como também em outras línguas orais e de sinais.
5.1.2. Advérbios de tempo
Na LIBRAS não há marca de tempo nas formas verbais, é como se os verbos ficassem na frase quase sempre no infinitivo. O tempo é marcado sintaticamente através de advérbios de tempo que indicam se a ação está ocorrendo no presente: HOJE, AGORA; ocorreu no passado: ONTEM, ANTEONTEM; ou irá ocorrer no futuro: AMANHÃ. Por isso os advérbios geralmente vem no começo da frase, mas podem ser usados também no final. Para um tempo verbal indefinido, usa-se os sinais:
  • HOJE, que traz a idéia de “presente”;
  • PASSADO, que traz a idéia de “passado”;
  • FUTURO, que traz a idéia de futuro.

5.2. Adjetivo na LIBRAS
Os adjetivos são sinais que formam uma classe específica na LIBRAS e sempre estão na forma neutra, não havendo, portanto, nem marca para gênero (masculino e feminino), em para número (singular e plural).
Muitos adjetivos, por serem descritivos e classificadores, apresentam iconicamente uma qualidade do objeto, desenhando-a no ar ou mostrando-a a partir do objeto ou do corpo do emissor.
Em português, quando uma pessoa se refere a um objeto como sendo arredondado, quadrado, listrados, etc está, também, descrevendo e classificando, mas na LIBRAS esse processo é mais “transparente” porque o formato ou textura são traçados no espaço ou no corpo do emissor, em uma tridimensionalidade permitida pela modalidade da língua.
Em relação à colocação dos adjetivos na frase, eles geralmente vêm após o substantivo que qualifica. Exemplos:
(14) PASSADO EU GORD@ MUITO-COMER, AGORA EU MAGR@ EVITAR COMER
(15) LEÃ@ COR CORPO AMAREL@ PERIGOS@
(16) RAT@ PEQUEN@, COR PRET@, ESPERT@
5.2.1. Comparativo de igualdade, superioridade e inferioridade
Em LIBRAS, também, pode ser comparada uma qualidade a partir de três situações: superioridade, inferioridade e igualdade.
Para se fazer os comparativos de superioridade e inferioridade, usa-se os sinais MAIS ou MENOS antes do adjetivo comparado, seguido da conjunção comparativa DO-QUE, ou seja:
  • comparativo de superioridade: X MAIS ------- DO-QUE Y;
  • comparativo de inferioridade: X MENOS ---- DO-QUE Y.
Para o comparativo de igualdade, podem ser usados dois sinais: IGUAL (dedos indicadores e médios das duas mãos roçando um no outro) e IGUAL (duas mãos em B, viradas para frente encostadas lado a lado), geralmente no final da frase. Exemplos:
(17) VOCÊ MAIS VELH@ DO-QUE EL@
(18) VOCÊ MENOS VELH@ DO-QUE EL@
(19) VOCÊ-2 BONIT@ IGUAL (me)
IGUAL (md)
5.3. Pronome na LIBRAS
5.3.1. Pronomes pessoais
A LIBRAS possui um sistema pronominal para representar as pessoas do discurso:
  • primeira pessoa (singular, dual, trial, quatrial e plural): EU; NÓS-2, NóS-3, NÓS-4, NÓS-GRUPO, NÓS-TOD@;
  • segunda pessoa (singular, dual, trial, quatrial e plural): VOCÊ, VOCÊ-2, VOCÊ-3, VOCÊ-4, VOCÊ-GRUPO, VOCÊ-TOD@;
  • terceira pessoa (singular, dual, trial, quatrial e plural): EL@, EL@-2, EL@-3, EL@-4, EL@-GRUPO, EL@-TOD@
No singular, o sinal para todas as pessoas é o mesmo, ou seja, a configuração da mão predominante é em “d” ( dedo indicador estendido, veja alfabeto manual), o que difere uma das outras é a orientação da mão: o sinal para “eu” é um apontar para o peito do emissor (a pessoa que está falando), o sinal para “você” é um apontar para o receptor (a pessoa com quem se fala) e o sinal para “ele/ela” é um apontar para uma pessoa que não está na conversa ou para um lugar convencionado para uma terceira pessoa que está sendo mencionada.
No dual, a mão ficará com o formato de dois, no trial o formato será de três, no quatrial o formato será de quatro e no plural há dois sinais: um sinal composto formado pelo sinal para a respectiva pessoa do discurso, no singular, mais o sinal GRUPO; e outro sinal para plural que é feito pela mão predominante com a configuração em “d” fazendo um círculo.
Como na língua portuguesa, na LIBRAS, quando uma pessoa surda está conversando, ela pode omitir a primeira pessoa e a segunda porque, pelo contexto, as pessoas que estão interagindo sabem a qual das duas o verbo está relacionado, por isso, quando estas pessoas estão sendo utilizadas pode ser para dar ênfase à frase.
Quando se quer falar sobre uma terceira pessoa que está presente, mas deseja-se uma certa reserva, por educação, não se aponta para esta pessoa diretamente. Nesta situação, o emissor faz um sinal com os olhos e um leve movimento de cabeça para a direção da pessoa que está sendo mencionada, ou aponta para a palma da mão encontrando o dedo na mão um pouco à frente do peito do emissor, estando esta mão voltada para a direção onde se encontra a pessoa referida.
5.3.2. Pronomes demonstrativos e advérbios de lugar
Na LIBRAS os pronomes demonstrativos e os advérbios de lugar têm o mesmo sinal, somente o contexto os diferencia pelo sentido da frase acompanhada de expressão facial.
Este tipo de pronome e de advérbio estão relacionados às pessoas do discurso e representam, na perspectiva do emissor, o que está bem próximo, perto e distante.
Estes pronomes ou advérbios têm a mesma configuração de mãos dos pronomes pessoais (mão em d), mas os pontos de articulação e as orientações do olhar são diferentes.
Assim, EST@ / AQUI é um apontar para o lugar perto e em frente do emissor, acompanhado de um olhar para este ponto; ESS@ / AÍ é um apontar para o lugar perto e em frente do receptor, acrescido de um olhar direcionado não para o receptor , mas para o ponto apontado perto segunda pessoa do discurso; e AQUELE / LÁ é um apontar para um lugar mais distante, o lugar da terceira pessoa, mas diferentemente do pronome pessoal, ao apontar para este ponto há um olhar direcionado:

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