terça-feira, 9 de agosto de 2016

Itens Lexicais para Tempo e Marca de Tempo

 Itens Lexicais para Tempo e Marca de Tempo
A LIBRAS não tem em suas formas verbais a marca de tempo como o português. Como vimos, essas formas podem se modular para aspecto. Algumas delas também se flexionam para número e pessoa.
Dessa forma, quando o verbo refere-se a um tempo passado, futuro ou presente, o que vai marcar o tempo da ação ou do evento serão itens lexicais ou sinais adverbiais como ONTEM, AMANHÃ, HOJE, SEMANA-PASSADA, SEMANA-QUE-VEM. Com isso, não há risco de ambigüidade porque sabe-se que se o que está sendo narrado iniciou-se com uma marca no passado, enquanto não aparecer outro item ou sinal para marcar outro tempo, tudo será interpretado como tendo ocorrido no passado.
Os sinais que veiculam conceito temporal, em geral, vem seguidos de uma marca de passado, futuro ou presente da seguinte forma: Movimento para trás, para o passado; Movimento para frente, para o futuro; e Movimento no plano do corpo, para presente. Alguns desses sinais, entretanto, incorporam essa marca de tempo não requerendo, pois, uma marca isolada como é o caso dos sinais ONTEM e ANTEONTEM


Outros sinais como ANO requerem o acompanhamento de um sinal de futuro ou de presente, mas, quando se trata de passado, ele sofre uma alteração na direção do movimento de para frente para trás e, por si só já significa ‘ano passado’. Os sinais de ANO e ANO-PASSADO.


É interessente notar, que uma linha do tempo constituída a partir das coordenadas: passado (atrás)- presente (no plano do corpo)- futuro (na frente), pode ser observada também em línguas orais como o português e o inglês como mencionado no início desse curso. Uma estruturação completamente diferente do tempo foi observada por nós na Língua de Sinais Urubu-Kaapor, língua de sinais da comunidade indígena Urubu habitante da Floresta Amazônica, onde o tempo futuro é para cima e o presente no torso do usuário dessa língua. O passado não parece ser marcado.
Isso levou-nos a considerar que as línguas Portuguesa e LIBRAS não são tão distintas assim naquilo que não depende de restrições decorrentes da modalidade visual-espacial, veiculando,assim, uma visão de mundo muito similar, pelo menos nos aspectos semânticos até o momento estudados por nós.
As diferenças que vimos apontando ultimamente na estruturação gramatical e lexical da LIBRAS e do português parecem não apontar tanto para diferenças culturais mas são sim devidas ao fato de a primeira usar o espaço e de a segunda utilizar o meio acústico, para estruturar os significados lexicais e gramaticais.

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