Gramática de Libras - Conhecer para entender uma língua diferente - Parte II
A língua é convencionada como conjunto de regras e signos abstratos, condicionados à fala ou aos sinais, essencial às práticas sociais de uma comunidade linguística. A partir dessa concepção, definiu-se como LIBRAS, ou seja, a língua de sinais, primordial para as práticas sociais da comunidade surda.
Para que se possa fundamentar uma língua é necessário instituir uma gramática sistematizada que defina todos os mecanismos necessários para regulação da língua.
Assim como a gramática convencional é entendida como conjunto de regras necessárias que o indivíduo deva seguir na estruturação de textos, tais como: Morfologia, sintaxe, coesão e coerência, acrescentando nesse repertório à fonologia, a semântica e a pragmática, a gramática de LIBRAS, também, possui regras para estruturação de textos, similares e contrastiva com a gramática da Língua Portuguesa, relacionadas à morfologia, coesão, coerência e semântica, conforme afirma (QUADROS, 2007 apud KATO, 1988).
- que há similaridades comportamentais que não precisam ser explicitadas por constituírem a base comum das línguas naturais;
- que se duas línguas compartilham muitas similaridades tipológicas, estas poderão servir de base para as primeiras inferências quanto ao significado das formas em língua estrangeiras;
- quanto às diferenças, por serem sistemáticas, admitem um tratamento inferencial e heurístico.
A língua de sinais é uma língua espacial-visual e existem muitas formas criativas de explorá-la - Configurações de mão, movimentos, expressões faciais gramaticais, localizações, movimentos do corpo, espaço de sinalização, classificadores são alguns dos recursos discursivos que tal língua oferece para serem explorados durante o desenvolvimento da criança surda e que devem ser explorados para um processo de alfabetização com êxito. (QUADROS, 2007).
Ainda segundo a autora, fazendo uma analogia entre as duas gramáticas, registrem-se as diferenças existentes:
LÍNGUA PORTUGUESA
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LIBRAS
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Língua predominante
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Oral-auditiva.(entoação e intensidade)
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Vísuo-espacial (expressão facial e corporal);
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FONEMA (som)
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Unidade Mínima sem significado de uma língua e a sua organização interna.
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Léxico reproduzido por meio de sinais, baseada nas interações sociais do indivíduo.
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ALFABETO
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Combinações de letra-som (oralizado), possibilitando o entendimento de qualquer léxico.
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Realizado de forma icônica (dactilologizado);
Auxilia no processo de transcrição da língua de sinais para a LP.
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SINTAXE
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Preocupa-se com a linearidade do texto.
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Envolve todos os aspectos espaciais, incluindo os classificadores, ou seja, é um tipo de morfema gramatical que é afixado a um morfema lexical ou sinal para mencionar a classe que pertence o referente desse sinal.
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CONSTRUÇÃO DE UM TEXTO
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Limita-se na transcrição de acordo com as regras.
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ARTIGO
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Apoia-se em fazer a marcação do gênero. Ex: o, a,os,as – um, uma, uns, umas
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Só aparece para seres humanos e animais. Define o item lexical classificado. Ex. homem, mulher.
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ESTRUTURA DE SENTENÇAS
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Convencionada pela estruturação de SVO
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Essa estruturação sofre alteração OSV ou SOV (o sujeito pode ser marcado por um sinal acompanhado da datilologia)
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PRONOMES
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Pessoal: Eu, tu, ele (a), nós, vos, eles (as)
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Pessoal: Eu, você (precisa olhar para pessoa) ele/ela, nós – nós 2 – nós 3 – nós 4.
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PLURAL
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Flexão de número através do acréscimo de (s), nos substantivos, artigos, pronome, verbo.
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Identificado pela repetição de itens lexicais.
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Como se observa no quadro1 acima, embora haja “algumas diferenças” entre a Língua Portuguesa e a Língua de Sinais, essas não impedem que o surdo se aproprie da leitura e escrita. Para isso, caberá ao professor /mediador ser a ponte entre esses dois mundos, através de estratégias metodológicas que eliminem as barreiras na comunicação e aprendizagem, e por oportuno, proporcionar a essa comunidade a verdadeira integração no sistema educacional.
Outra questão que deve ser levada em consideração para o sucesso de escrita é que, tanto o aluno “normal” quanto o aluno com surdez, depende por sobremaneira dos inputs a que estão expostos, pois esse sucesso está intrinsecamente atrelado às experiências e aos conhecimentos prévios, ou seja, a visão de mundo introspectivo a cada participante. (BRASIL, 2002).
Imbricado a isso, convalidado com a idéia de QUADROS e o material que orienta o ensino de surdos (LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS Caminhos para a prática pedagógica – v.01 e 02) ratifica-se que, para o surdo ter um bom domínio da Língua Portuguesa é recomendável que, primeiramente, ele domine sua língua materna (L1), que, no caso em discussão, é a LIBRAS, acrescida a isso, ele poderá ser inserido no processo de aquisição da segunda língua, correlacionada a Gramática dos ouvintes.
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Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa 2.0.
*Ivanil Martins de Almeida - servidora do Crea-MT, graduada em Letras e técnica em eletrotécnica e contabilidade, além de pós-graduanda em Gestão de Pessoas.
Fonte:Ivanil Martins
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