quinta-feira, 21 de abril de 2016

O surdo e a sexualidade


Ao abordar a sexualidade dos surdos se faz necessário resgatar as concepções teóricas que permeiam este tema, apesar de que algumas definições são discutidas há décadas. Para Vygotsky (1984, p.89; 2001) a surdez se define como “um estado normal e não patológico para a criança surda, e o defeito só se é sentido de um modo mediatizado, secundário como resultado de sua experiência social refletida”. Afirma ainda que a linguagem regula a atividade psíquica humana, pois ela é responsável pela estruturação dos processos cognitivos. Com isso, é assumida como constitutiva do sujeito, pois possibilita as interações fundamentais para a construção do conhecimento. Conforme Sá (2002) uma pessoa surda é alguém que vivencia um déficit de audição que o impede de adquirir, de maneira natural, a língua oral/auditiva usada pela comunidade majoritária e que constrói sua identidade baseada principalmente nesta diferença, fazendo uso de estratégias cognitivas e de manifestações culturais diferentes da maioria das pessoas que ouvem. As pessoas com deficiência auditiva e ou Surdo - indivíduo que faz uso da LIBRAS e que é membro de uma comunidade Surda - também possuem a sua sexualidade em formação e em desenvolvimento e faz uso desta em suas relações como qualquer outro ser humano.

Os surdos que participam de Comunidades e ou Associações Surdas assumem uma cultura própria e o surdo que frequenta estas comunidades adquirem uma identidade surda, ou seja, características peculiares, como por exemplo: seus debates e teatro abordam questões de relacionamento, educação e visão de mundo das pessoas Surdas. Alguns autores que abordam a surdez confirmam que na cultura surda as pessoas surdas usam a língua de sinais e compartilham crenças de pessoas surdas entre si e com outras pessoas que não são surdas. Corrobora-se também que com base no que foi escrito anteriormente, a definição da surdez foi influenciada historicamente pela tradição médico terapêutica e posteriormente a abordagem educacional aos surdos, isto fez com que não fosse incluída e considerada a experiência da surdez e o contexto psicossocial e cultural onde a pessoa surda se desenvolve (FELIPE, 2007; PADDEN, 1989: 45 apud FELIPE 2007; BENTO, 2005).

Segundo Felipe (2007), “existe uma diferença entre ser Surdo e ser deficiente auditivo. “Deficiente” estigmatiza a pessoa porque mostra sempre o que ela não tem, em relação às outras e não mostra o que ela pode ter de diferente e com isso, acrescentar às outras pessoas”. Para Thoma & Lopes (2004) “surdez é um traço que coloca quem a possui no limite entre aquele que é inválido e aquele que pode ser reabilitado, “tratado” ou “educado” e isto é encontrado nos surdos alienados aos desejos científicos, religiosos e clínicos”.

Surdo para Felipe (2007) aprende e fala com as mãos, a língua de sinais, e através desta convive com pessoas que percebem o mundo pela visão, e isso faz com que elas sejam diferentes e não necessariamente deficientes. A diferença está no modo de apreender o mundo, gerando valores e comportamento comum, compartilhado bem como tradições sócio-interativas. O Surdo está politicamente atuando para ter seus direitos de cidadania e aspectos linguísticos respeitados. Capovilla (2001) acrescenta que Surdo se designa a pessoa que pertence a uma condição antropológica de membro da Comunidade Surda que se identifica com seus valores culturais e se distingue pelo uso da Língua de Sinais.

Freud (1976; 1997) defende que a sexualidade se caracteriza por grande plasticidade, tendo a ver com a história pessoal de cada um. Ela envolve toda uma série de excitações e atividades presentes desde a infância. Não tem a ver com um objeto, tão pouco com um objetivo. Ela perpassa a necessidade fisiológica, relacionando-se ao desejo. De acordo com as teorias da psicanálise, todos os seres humanos já nascem com a sexualidade, e passarão por diversas fases, cada uma com suas próprias características de comportamento.

Desta forma, percebe-se que o sujeito irá exercer ou praticar esta sexualidade tomando por base as informações e experiências adquiridas durante sua vida, se na infância o surdo foi reprimido com relação as suas curiosidades, a sua sexualidade poderá se desenvolver de forma positiva ou negativa a depender da estrutura psíquica do indivíduo construída ao longo de suas vivências. Aprendemos o que nos é ensinado ou somos mediados por nossos cuidadores, seja um pai, uma mãe, uma tia ou avô e levamos isto para nossa convivência social, extrafamiliar.

Esta convivência irá corroborar ou não o que aprendemos no seio familiar. Muitas vezes, o que irá fazer com que pratiquemos o que foi aprendido ou ensinado é a forma como nossa relação com os entes familiares foi construída: confiança, afeto, diálogo, medo, insegurança ou frequentes punições. Outros autores (CRUZ & OLIVEIRA, 2002) defendem que a sexualidade está ligada ao modo como os seres humanos se relacionam, envolve também sentimentos e experiências, assim como está vinculada aos aspectos biológicos, contudo, abrange muito mais do que isto, não se limitando aos órgãos sexuais e ao ato sexual ou ao sexo, mas ao corpo inteiro, total, real e fantasioso.

Fonte: PORTAL EDUCAÇÃO -

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