Gladis Perlin e Karin Strobel ISBN: 85-60522-02-6
FLORIANÓPOLIS, 2006
Na disciplina Fundamentos da Educação de Surdos buscamos os conhecimentos dos fundamentos filosóficos, históricos, sociológicos e econômicos da Educação e com isto procuramos refletir a realidade da educação de surdos no Brasil.
O que nos trouxe ao encontro de vocês foi a necessidade de dialogarmos sobre os fundamentos da educação de surdos. E estamos sentindo que não é suficiente aquilo que é próprio da educação. Nem as aberturas buscadas pelas atuais posições culturais dos surdos. O que importa são aqueles os signos e significados fortes que deslocam as velhas construções e anunciam elementos novos e velhos que vão sendo agrupados de forma a movimentar os fundamentos da educação de surdos.
despertam nossa diferença para as condições de existência | |
Estas mudanças de visões mostram os resultados daquilo que os surdos hoje queremos dizer como sendo um novo jeito de ser surdo. Ser surdo com identificação naquilo que rompe nos aspectos que envolvem a educação no que nos entendia como deficientes. Nosso impulso é para que ela não mais fique nas malhas da “correção”, mas nas orientações fundamentais que
De nosso ponto de vista os fundamentos da educação passam a ser teorizados a partir dos espaços da cultura surda. Que pode ser definida como sendo: história cultural, língua de sinais, identidades diferentes, leis, pedagogia surda, literatura surda, e outros jeitos de ver o mundo ou seja dos espaços de Estudos Culturais e em Estudos Surdos. Estes oferecem possibilidades (de teorizar) não são mais a partir do tradicional cujo estilo de pensamento era fundamentalmente particular para o qual as proposições surdas eram empíricas. Hoje tal posição mudou e os espaços surdos na educação se revestem de significados com o trabalho pensado dentro de certas tradições históricas, e atuais que renovam o espaço da educação do surdo.
Assim de maneira alguma, as concepções entendidas como sendo da educação especial faz parte dos fundamentos da educação dos surdos. Com a presença dos Estudos Culturais temos novos pontos de partida alguns apontamentos que direcionam:
1. Um breve passeio pelas raízes da história de educação de surdos 2. O impacto do Congresso de Milão 1880 na construção educacional de surdos 3. Modelos educacionais na educação de surdos 4. Identidades surdas fundamentando a educação. As identificações e os locais das identidades
5. O encontro surdo-surdo na determinação das identidades surdas. 6. As identidades surdas multifacetadas. 7. .Legislação e educação de surdos 8. As políticas de inclusão e exclusão sociais e educacionais
Pode-se dizer que agora os termos de fundamentos de educação dos surdos convergem em torno da mesma problemática. Aqui estão a respeito varias diferenças importantes que não mais se fundam na velha pedagogia de cunho ouvicentrico, isto é, que está centralizada numa concepção do “ser ouvinte”.
Desejamos muito empenho em seus estudos, e não prometemos uma fácil compreensão da realidade educacional dos surdos, no entanto, nos estudos culturais eles são o que há de possível no momento. Apresentamos aqui os objetivos que norteiam nossos estudos nesta disciplina.
Buscar conhecimentos dos fundamentos filosóficos, históricos, sociológicos e econômicos da Educação de Surdos para que seja possível identificar a língua de sinais, seus espaços, sua possibilidade da emergência de posições didáticas e sua percepção como língua de um povo.
Fundamentar a língua de sinais com suas possibilidades na história Mostrar as resistências da língua de sinais face ao historicismo Identificar fundamentos legais da educação de surdos Ter uma visão da língua de sinais cujos fundamentos se perdem na cultura, na identidade, na memória de um povo Apresentar os fundamentos da educação dos surdos Procurar refletir a realidade da educação de surdos no Brasil Fomentar a análise crítica do papel da Educação de Surdos diante da realidade sócio-cultural brasileira Estimular a discussão das relações existentes entre educação de surdos, cultura e língua de sinais.
1 - UM BREVE PASSEIO PELAS RAÍZES DA HISTÓRIA DE EDUCAÇÃO DE SURDOS
A história comum dos Surdos é uma história que enfatiza a caridade, o sacrifício e a dedicação necessários para vencer “grandes adversidades”. Nídia Limeira de Sá
Para refletirmos as fundamentações da educação de surdos atual, não há nada melhor do que fazer um breve passeio pelas raízes da história de surdos.
Conhecer a história de surdos não nos proporciona apenas para adicionarmos conhecimentos, mas também para refletirmos e questionarmos diversos acontecimentos relacionados com a educação em várias épocas, por exemplo, por que atualmente apesar de se ter uma política de inclusão, o sujeito surdo continua excluído?
A história da educação de surdos não é uma história difícil de ser analisada e compreendida, ela evolui continuamente apesar de vários impactos marcantes, no entanto, vivemos momentos históricos caracterizados por mudanças, turbulências e crises, mas também de surgimento de oportunidades.
Como vemos pelo título do texto ’Um breve passeio pelas raízes da história de educação de surdos’.
Porque raízes?
É pelas raízes numa história que surge revelações trazendo à luz as discussões educacionais das diferentes metodologias, pode-se observar que a raiz central das disputas sempre esteve ligada a respeito da língua, ou seja, se os sujeitos surdos deveriam desenvolver a aprendizagem através da língua de sinais ou da língua oral?
O interessante é que estas decisões sobre a educação de surdos sempre foram determinadas por sujeitos ouvintes que se autoconferem poder para a tomada dessa decisão.
Antes de surgirem estas discussões sobre a educação, os sujeitos surdos eram rejeitados pela sociedade e posteriormente eram isolados nos asilos para que pudessem ser protegidos, pois não se acreditava que pudessem ter uma educação em função da sua ‘anormalidade’, ou seja aquela conduta marcada pela intolerância obscura na visão negativa sobre os surdos, viam-nos como ‘anormais’ ou ‘doentes’
Muitos anos depois os sujeitos surdos passam a ser vistos como cidadãos com direitos e deveres de participação na sociedade, mas sob uma visão de assistencial excluída.
Naquela época, não tinham escolas para os sujeitos surdos. Com esta preocupação educacional de sujeitos surdos fizeram surgir numerosos professores que desenvolveram seus trabalhos com os sujeitos surdos e de diferentes métodos de ensino.
O grande impacto que mais marcou na história de surdos no Congresso de Milão no ano de 1880 foi à decisão adotada pelos educadores de surdos ouvintistas que, posteriormente discutiremos e refletiremos mais a respeito no capitulo a seguir.
CONCEITO ouvintismo: segundo Skliar, “é um conjunto de representações dos ouvintes, a partir do qual o surdo está obrigado a olhar-se e narrar-se como se fosse ouvinte”.(1998, p 15).
Por exemplo: houve avanços na visão clínica, que faziam das escolas dos surdos espaços de reabilitação de fala e treinamento auditivo preocupando-se apenas em ‘curar’ os surdos que eram vistos como ‘deficientes’ e não em educar.
Visão Clínica: nesta visão a escola de surdos só se preocupa com as atividades da área de saúde, vêem os sujeitos surdos como pacientes ou ‘doentes nas orelhas’ que necessitam serem tratados a todo custo por exemplo os exercícios terapêuticas de treinamento auditivos e os exercícios de preparação dos órgãos fonador, que fazem parte do trabalho do professor de surdos quando atua na abordagem oralista. Nesta visão clinica geralmente categorizam os sujeitos surdos através de graus de surdez e não pelas suas identidades culturais.
Para o povo surdo deve ter sido difícil as suas vivências durante a antiguidade devidas ás injustiças sofridas e suportadas, no entanto o quase silencio sobre o que se diz com a reverência sobre sujeitos surdos é na verdade um sentido revelador, a forma parcial dos registros dos vários pesquisadores mostra-nos a preocupação deles em nos apresentar a história de surdos uma visão de que focaliza, na maior parte em esforços de fazer de sujeitos surdos como modelos de sujeitos ouvintes ao oferecer ‘curas’ para as suas ‘audições’ danificadas.
Povo Surdo: “O conjunto de sujeitos surdos que não habitam no mesmo local, mas que estão ligados por uma origem, tais como a cultura surda, costumes e interesses semelhantes, histórias e tradições comuns e qualquer outro laço”.(Strobel, 2006, p.8).
Uma breve visão através da história de educação de surdos possibilitanos uma reflexão de como o sujeito surdo foi tratado e educado através dos tempos e permite-nos compreender atitudes atuais dos profissionais da saúde e da educação, causadores de estereótipos que permeiam as diferentes representações na educação de surdos.
As maiorias dos pesquisadores discretamente se limitaram nos registros nos quais os sujeitos surdos eram vistos como seres ‘deficientes’, conforme a definição de ‘ouvintismo’, assim como pronuncia a pesquisadora surda Perlin (2004) “As narrativas surdas constantes à luz do dia estão cheias de exclusão, de opressão, de estereótipos” (p.80)
Estereótipo: opinião preconcebida, difundida entre os elementos de uma coletividade.(http://w.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx)acessado:28/04/2006
Nós não podemos deixar de reconhecer que a história do povo surdo mostra que por muitos séculos de existência, a pedagogia, as políticas e muitos outros aspectos próprios do povo surdo têm sido organizados geralmente no ponto de vista dos sujeitos ouvintes e não dos sujeitos surdos que, quase sempre, são incógnitos como profissionais que poderiam contribuir com suas competências essenciais e de sua diferença do Ser Surdo.
Ser Surdo: (...) olhar a identidade surda dentro dos componentes que constituem as identidades essenciais com as quais se agenciam as dinâmicas de poder. É uma experiência na convivência do ser na diferença (Perlin e Miranda 2003, p.217)
A história que surgiu segundo sujeitos ouvintes elogiando professores ouvintes pela iniciativa de trabalhos com os surdos, pela tecnologia oralistas, cadê a história das associações de surdos? De professores surdos? De sujeitos surdos sucedidos? De pedagogia surda? A historia cultural de surdos quase nunca lhes é contada, visto que tal fato seria um passo importante para a legitimação do modelo cultural do ‘Ser Surdo’, cita Wrigley:
Pintar psicohistorias de grandes homens lutando para obter um lugar na historia das civilizações dos que ouvem tem pouco ou nada a ver com representar as circunstâncias históricas das pessoas Surdas vivendo à margem daquelas sociedades que ouvem. (1996, p.38)
Em síntese, a história dos Surdos, contada pelos não-Surdos, é mais ou menos assim: primeiramente os Surdos foram “descobertos” pelos ouvintes, depois eles foram isolados da sociedade para serem “educados” e afinal conseguirem ser como os ouvintes; quando não mais se pôde isolá-los, porque eles começaram a formar grupos que se fortaleciam, tentou-se dispersá-los, para que não criassem guetos. ( SÁ, 2004, p.3)
- SKLIAR, Carlos, Educação & exclusão: abordagens sócioantropológicas em educação especial. Porto Alegre: Editora Mediação, 1997
- SÁ, Nídia Regina Limeira de, Cultura, Poder e Educação de Surdos. Manaus: INEP, 2002.
2. O IMPACTO DO CONGRESSO DE MILÃO EM 1880 NA CONSTRUÇÃO EDUCACIONAL DE SURDOS
(...) essa data ainda é lembrada como a mais sinistra de sua história: como se fosse mesmo o ‘1 de setembro’ deles quando desabaram as torres gêmeas da cultura e da língua de sinais, a do método misto e a do método manualista para educação dos surdos. Ali começou uma longa e amarga batalha para defender o direito de vida de língua de sinais. Jonathan Rée
Quando nós observamos atentamente a situação atual da educação de surdos, nós podemos perceber que houve ruptura em alguma parte de historia de surdos e que esta ruptura está aos poucos sendo preenchida nestas últimas décadas.
Até recentemente os povos surdos sofreram com esta ruptura, pois para a maioria deles a educação verdadeira começou somente depois quando saíram da escola na idade de adolescência, ao terem contato com os outros sujeitos surdos adultos nas associações de surdos.
O ano de 1880 foi o clímax da história de surdos, que adicionou a força de um lado de muitos períodos de duelos polêmicos de opostos educacionais: a língua de sinais e o oralismo.
Nenhum outro evento na historia de surdos teve um impacto maior na educação de povos surdos como este que provocou uma turbulência séria na educação que arrasou por mais de cem anos nos quais os sujeitos surdos
ficaram subjugados ás práticas ouvintistas, tendo que abandonar sua cultura, a sua identidade surda e se submeteram a uma ‘etnocêntrica ouvintista’, tendo
Etnocentrismo: De acordo com Rocha (1984), ’etnocentrismo’ é “uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados (...) através dos nossos valores...”, partindo deste conceito, dentro do contexto de história de surdos, podemos dizer que ‘etnocêntrica ouvintista’ é a idéia de sujeitos ouvintes que não aceitam os sujeitos surdos como diferença cultural e sim que eles tem de moldar com modelo ouvinte, isto é, tem de imitar aos ouvintes falando e ouvindo.
Por quase um século, as línguas de sinais foram perseguidas nas mesmas instituições que supostamente deveriam propagálas. Mas os códigos não chegaram a ser eliminados, mas simplesmente conduzidos ao mundo marginal, onde sobreviveram graças às contraculturas estabelecidas pelas crianças nas escolas, clã-destinas, rebeldes e cruéis. (REÉ, 2005)
Neste ano de 1880 foi realizado um Congresso Internacional de
Professores de Surdos em Milão, Itália, para discutir e avaliar a importância de três métodos rivais: língua de sinais, oralista e mista (língua de sinais e o oral).
Os temas propostos foram: vantagens e desvantagens do internato, tempo de instrução, número de alunos por classe, trabalhos mais apropriados aos surdos, enfermidades, medidas, medidas curativas e preventivas, etc. Apesar da variedade de temas, as discussões voltaram-se às questões do oralismo e da língua de sinais. (BORNE, 2002, p.51)
No dia 1 de setembro de 1880, houve uma votação por 160 votos com quatro contra, a favor de métodos orais na educação de surdos, a partir daí a língua de sinais foi proibida oficialmente alegando que a mesma destruía a habilidade da oralização dos sujeitos surdos.
(...) ficou decidido no Congresso Internacional de Professores Surdos, em Milão, que o método oral deveria receber o status de ser o único método de treinamento adequado para pessoas surdas. Ao mesmo tempo, o método de sinais foi rejeitado, porque alegava que ele destruía a capacidade de fala das crianças. O argumento para isso era que ‘todos sabem que as crianças são preguiçosas’, e por isso, sempre que possível, elas mudariam da difícil oral para a língua de sinais. (WIDELL, 1992, p. 26)
Este congresso foi organizado, patrocinado e conduzido por muitos especialistas ouvintistas, todos defensores do oralismo puro, do total de 164 delegados, os 56 eram oralistas franceses e os 6 eram oralistas italianos. Havia 74% dos oralistas de França e da Itália e o Alexander Grahan Bell teve grande influência neste congresso. Bell foi professor de surdos oralista, ele ficou famoso pela invenção de telefone, seu aparelho gerou grande interesse público e recebeu um prêmio na época, embora que inicialmente a intenção de inventar o telefone era para servir como apoio de treinamento auditivo dos sujeitos surdos.
Exemplos de países que resistiram à proibição de língua de sinais eram a Grã Bretanha e Estados Unidos e houveram sujeitos surdos representantes de povo surdo que queriam participar mas foram excluídos na votação e tiveram seus discursos negados.
Obviamente já perceberem que o ensejo do oralismo puro já era vitorioso, por causa de números de presentes ouvintistas e assim demonstrou que o triunfo para a causa do oralismo puro foi ganha antes mesmo do congresso iniciar.
Após o congresso, as maiorias dos países adotaram rapidamente o método oral nas escolas para surdos proibindo oficialmente a língua de sinais e ali começou uma longa e sofrida batalha do povo surdo para defender o direito lingüístico cultural.
Não foi sempre assim, havia momentos antes do congresso de 1880 em que a língua de sinais era mais valorizada.
Por exemplo: havia professores que juntavam na tarefa de demonstrar a veracidade da aprendizagem dos sujeitos surdos ao usar a língua de sinais e o alfabeto manual e em muitos lugares havia professores surdos.
(...) quase metade dos professores eram surdos. Não existiam audiologistas, terapeutas de reabilitação, ou psicólogos educacionais e, para a maioria, nenhum destes eram aparentemente necessário. (...) pelo contrário a criança e o adulto surdos eram descritos em termos culturais: que a escola freqüentaram, quem eram os seus parentes e amigos surdos (caso os houvesse), quem era a sua esposa surda, onde trabalhavam, quais as equipes desportivas de surdos e organizações de surdos a que pertenciam, qual o serviço que prestavam à comunidade dos surdos? ( LANE, 1992, p.36)
Na época os povos surdos não tinham problemas com a educação, maioria de sujeitos surdos dominavam na arte da escrita e há evidência que haviam muitos escritores surdos, artistas surdos, professores surdos e outros sujeitos surdos bens sucedidos.
Ferdinand Berthier
Surdo, francês, intelectual, Foi professor de surdos e o seu método de ensino tinha por base a identidade surda. Foi fundador da primeira Associação de Surdos da qual se originaram outras no mundo todo. Recebeu o premio French Legion of Honor.
Vocês conhecem alguns sujeitos surdos bem sucedidos hoje? Cite alguns e justifique o porque da escolha.
Em seguida do congresso os professores surdos perderam seus empregos; as línguas dos sinais foram forçadamente substituídas por métodos orais; em conseqüência disto a qualidade da educação dos surdos diminuiu e as crianças surdas saiam de escolas com as qualificações inferiores e as habilidades sociais limitadas .
Na sua opinião, o que aconteceu que movimentou a educação de surdos para um ritmo decrescente de qualidade?
PARA REFLETIR “oralismo se encontrava então bem adaptado à sociedade, mas como será que as atitudes ocultas nestes métodos de ensino se adaptam à cultura surda? Deveria a cultura surda se adaptar unilateralmente às exigências da sociedade?” ( WIDELL, 1992, p.29)
Houve a crise séria entre a cultura surda e a educação, pois ao percorrer a trajetória histórica do povo surdo e suas diferentes representações sociais vemos os domínios do ouvintismo relativos a qualquer situação relacionada à vida social e educacional dos sujeitos surdos.
Houve fracassos na educação de surdos devido à predominância do oralismo puro na forma de ouvintismo, entretanto, em últimos 20 anos começaram perceber que os povos surdos poderiam ser educados através da língua dos sinais.
A votação de Congresso de Milão provocou um ‘rombo’ que ocasionou a queda de educação de surdos e agora os povos surdos estão criando forças e animo para levantarem-se e lutarem pelos seus direitos a educação.
Entretanto, isto não significou a banimento dos métodos oralistas, que continuaram a ser utilizados até hoje, mas a língua de sinais, cultura e identidade surda ganharam mais potencia e sendo mais valorizada.
A proibição da língua de sinais por mais de 100 anos sempre esteve viva nas mentes dos povos surdos até hoje, no entanto, agora o desafio para o povo surdo é construir uma nova história cultural, com o reconhecimento e o respeito das diferenças, valorização de sua língua, a emancipação dos sujeitos surdos de todas as formas de opressão ouvintistas e seu livre desenvolvimento espontâneo de identidade cultural!
- SKLIAR, Carlos, La educación de los sordos – Una reconstrucción histórica, cognitiva y pedagógica. Mendoza: EDIUNC, 1997
- SACKS, Oliver. Vendo Vozes: Uma jornada pelo mundo dos surdos. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1990
3. MODELOS EDUCACIONAIS NA EDUCAÇÃO DE SURDOS
“Eu não quero explicar o passado nem adivinhar o futuro.
Eu só quero entender o presente” Jorge Luiz Borges
No princípio da história de educação de surdos os sujeitos surdos eram considerados intelectualmente ‘inferiores’, por isso eram trancados em asilos e quando se perceberam que os sujeitos surdos tinham a capacidade de aprender e com isto surgiram pesquisas e experimentos das diferentes metodologias e formas adaptadas de ensino.
Neste trabalho procuramos fundamentar nos cincos modelos educacionais na educação de surdos e presentes em maior ou menor intensidades nas escolas para surdos que são o Oralismo, a Comunicação Total, o Bilingüismo, a Pedagogia do Surdo e processo Intercultural
3.1. O Oralismo e suas estratégias
Na história houve uma época que tinha ampla valorização e aceitação da língua de sinais e a partir do congresso de Milão de 1880, a língua de sinais foi banida completamente na educação de surdos impondo ao povo surdo o oralismo.
Devido á evolução tecnológicos que facilitavam a prática da oralização pelo sujeito surdo, o oralismo ganhou força a partir da segunda metade do século XIX.
.A modalidade oralista baseia-se na crença de que é a única forma desejável de comunicação para o sujeito surdo, e a língua de sinais deve ser evitada a todo custo porque atrapalha o desenvolvimento da oralização.
Tem muitos métodos orais diferentes na educação com os surdos, ‘o oralismo’ é um dos recursos que usa o treinamento de fala, leitura labial, e outros, este recurso é usada dentro das metodologias orais, entre eles, o ‘verbotonal’, ‘oral modelo’ ‘materno reflexivo’, ‘perdoncini’ e entre outros.
Essa concepção de educação enquadra-se no modelo clínico, esta visão afirma a importância da integração dos sujeitos surdos na comunidade de ouvintes e que para isto possa ocorrer-se o sujeito surdo deve oralizar bem fazendo uma reabilitação de fala em direção à “normalidade” exigida pela sociedade.
O oralismo, ou filosofia oralista,usa a integração da criança surda à comunidade de ouvintes, dando-lhe condições de desenvolver a língua oral (no caso do Brasil, o Português). O oralismo percebe a surdez como uma deficiência que deve ser minimizada através da estimulação auditiva. (Goldfeld, 1997, p. 30 e 31)
E com isto persistiu a aplicação de inúmeros métodos oralistas, geralmente estrangeiros, buscando estratégias de ensino que poderiam transformar em realidade o desejo de ver os sujeitos surdos falando e ouvindo, fazendo com que os órgãos governamentais dessem enormes verbas para a aquisição de equipamentos em que pudessem potencializar os restos auditivos e com os projetos de formação de professores leigos que muitas vezes faziam o papel de fonoaudiólogos, ficando assim a proposta educacional direcionada somente para a reabilitação de fala aos sujeitos surdos.
Dessa forma, ate recentemente muitos sujeitos surdos foram triados e avaliados clinicamente, encaminhados em escolas publicas e foi estimulada a criação de instituições de reabilitação particulares.
Na área de saúde classificam-se os surdos através de exames audiometrias. Graus de surdez mais conhecida é: Leve/ Moderada/ Severa / Profunda
Audiometria: exame da audição realizado por meio de instrumentos e avaliação da capacidade para apreender os diferentes sons da fala e de classificação de surdez em vários graus.
Segundo DORZIAT (2006) as técnicas mais utilizadas no modelo oral:
- O treinamento auditivo: estimulação auditiva para reconhecimento e discriminação de ruídos, sons ambientais e sons da fala, geralmente fazem treinamento com as aparelhagens como AASI, e outros.
AASI: é o aparelho de amplificação sonora individual, que aumenta os sons, possibilitando que o sujeito com surdez consiga escutar, este aparelho auditivo, tem vários tipos de fabricações e de diferentes modelos, o mais tradicional é o colocado atrás da orelha com molde da orelha interna, é conhecido popularmente como ‘aparelho auditivo’.
- O desenvolvimento da fala: exercícios para a mobilidade e tonicidade dos órgãos envolvidos na fonação, lábios, mandíbula, língua etc, e exercícios de respiração e relaxamento,
- A leitura labial: treino para a identificação da palavra falada através da decodificação dos movimentos orais do emissor
“Essa técnica de leitura labial:”ler” a posição dos lábios e captar os movimentos dos lábios de alguém está falando é só útil quando o interlocutor formula as palavras de frente com clareza e devagar. (...) a maioria de surdos só conseguem ler 20% da mensagem através da leitura labial, perdendo a maioria das informações. Geralmente os surdos ‘deduzem’ as mensagens de leitura labial através do contexto dito”. (STROBEL, 2006, p.10)
Na década de anos 60, brotou a língua dos sinais associada com a oralização, surgindo o modelo misto denominado de Comunicação Total que trouxe o reconhecimento e valorização de língua de sinais que foi muito oprimida e marginalizada por mais de 100 anos.
(...) Espanha que tanto fez pela educação do surdo, é curioso de como Ramirez de Carrion desenvolveu um processo de “cura” de surdos, cuja a receita era a seguinte: raspar a cabeça (...), aplicar-lhe uma mistura de Brandy, salitre, óleo de amêndoas e petróleo, e pondo-se atrás do surdo reza-se a inevitável e medieval reza, bem alto, é claro, até porque estavase perante um surdo. A única garantia deste remédio era que, mesmo que o surdo não se curasse, ficava careca, podendo assim dividir as suas preocupações entre a surdez e a calvície? Fonte:http://w.maosquefalam.com/index.php?module=ContentExpress&func=