As
diferentes identidades surdas
Multiplas
Identidades Surdas
Segundo A Autora Gladis Perlin: “As diferentes identidades Surdas são
bastante complexas, diversificadas. Isto pode ser constatado nesta divisão por
identidades onde se tem ocasião para identificar outras muitas identidades
Surdas, ex: Surdos filhos de pais Surdos; Surdos que não tem nenhum contato com
Surdo, Surdos que nasceram na cidade, ou que tiveram contato com Língua de
Sinais desde a infância etc... Como dissemos a identidade Surda não é estável,
esta em continua mudança. Os Surdos não podem ser um grupo de identidade
homogênea. Há que se respeitarem as diferentes identidades.
Em
todo caso, para a construção destas identidades impera sempre a identidade
cultural, ou seja, a identidade Surda como ponto de partida para identificar as
outras identidades Surdas. Esta identidade se caracteriza também como identidade
política, pois esta no centro das produções culturais.
Outro
ponto de partida que não pode ser esquecido é que a identidade Surda é possível
pela experiência visual. Isto é, se a pessoa tem audição já não pode ser Surda
como no caso da identidade intermediaria. Isto tudo é importante à produção
cultural como seja: necessidade de intérpretes, de Língua de Sinais, de
convívio com pessoas de identidades iguais”.
As Diferentes
Identidades Surdas:
1. Identidades
Surdas (identidade política)
Trata-se de uma identidade fortemente marcada pela política Surda. São
mais presentes em Surdos que pertencem à comunidade Surda e apresentam
características culturais como sejam:
· Possuem
a experiência visual que determina formas de comportamento, cultura, língua,
etc.;
·
Carregam consigo a Língua de Sinais. Usam Sinais sempre, pois é sua
forma de expressão. Eles têm o costume bastante presente que os diferencia dos
ouvintes e que caracteriza a diferença Surda: a captação da mensagem é visual e
não auditiva. O envio de mensagens não usa o aparelho fonador, usa as mãos;
·
Aceitam-se como Surdos, sabem que são Surdos e assumem um comportamento
de pessoas Surdas, Entram facilmente na política com identidade Surda, onde
impera a diferença: necessidade de interpretes, de educação diferenciada, de
Língua de Sinais, etc.;
· Passam
aos outros Surdos sua cultura, sua forma de ser diferente;
· Assumem
uma posição de resistência;
· Assumem
uma posição que avança em busca de delineação da identidade cultural;
·
Assimilam pouco, ou não conseguem assimilar a ordem da língua falada,
tem dificuldade de entendê-la;
·
Decodificam todas as mensagens recebidas em Língua de Sinais;
· A
escrita obedece à estrutura da Língua de Sinais, pode igualar-se a língua
escrita, com reservas;
· Tem
suas comunidades, associações, e/ou órgãos representativos e compartilham entre
si suas dificuldades, aspirações, utopias;
· Usam
tecnologia diferenciada: legenda e Sinais na TV, telefone especial, campainha
luminosa;
· Tem uma
diferente forma de relacionar-se com as pessoas e mesmo com animais;
· Esta
identidade assume características bastante diferenciadas é preciso lembrar aqui
que, por exemplo, a identidade Surda genealógica traz sinais vividos e provados
durante gerações, por exemplo, na Itália há uma família de Surdos de mais de 40
gerações; os filhos de pais Surdos; os Surdos que nasceram Surdos têm família
ouvinte e entraram em contato com a comunidade Surda já em idade adulta.
2. Identidades
Surdas Hibridas
Ou seja, os Surdos que nasceram ouvintes e com o tempo
alguma doença, acidente, etc. os deixaram Surdos:
·
Dependendo da idade em que a surdez chegou, conhecem a estrutura do
português falado decodifica a mensagem em português e
o envio ou a captação da mensagem vez ou outra é na forma da língua oral;
· Usam
língua oral ou Língua de Sinais para captar a mensagem. Esta identidade também
é bastante diferenciada, alguns não usam mais a língua oral e outros usam
Sinais sempre;
· Assumem um comportamento de pessoas
Surdas, ex: política da identidade Surda usa tecnologia para Surdos...;
·
Convivem pacificamente com as comunidades Surdas;
·
Assimilam um pouco mais que os outros Surdos, ou não conseguem assimilar
a ordem da língua falada, tem dificuldade de entendê-la;
· A
escrita obedece à estrutura da Língua de Sinais, pode igualar-se a língua
escrita, com reservas;
·
Participam das comunidades, associações, e/ou órgãos representativos e
compartilham com as identidades Surdas suas dificuldades, políticas, aspirações
e utopias;
·
Aceitam-se como Surdos, sabem que são Surdos, exigem intérpretes,
legenda e Sinais na TV, telefone especial, campainha luminosa;
· Também
tem uma diferente forma de relacionar-se com as pessoas e mesmo com animais.
3. Identidades Surdas Flutuantes
Os
Surdos que não têm contato com a comunidade Surda. Ou Surdos que viveram na
inclusão ou que tiveram contato da surdez como preconceito ou desconhecimento
social. São outra categoria de Surdos, visto de não contarem com os benefícios
da cultura Surda. Eles também têm algumas características particulares.
· Seguem
a representação da identidade ouvinte;
· Estão
em dependência no mundo dos ouvintes, seguem os seus princípios, respeitam-nos,
colocam-nos acima dos princípios da comunidade Surda, às vezes competem com os
ouvintes, pois que são induzidos no modelo da identidade ouvinte;
· Não participam
da comunidade Surda, associações e lutas políticas;
·
Desconhecem ou rejeitam a presença do interprete de Língua de Sinais;
·
Orgulham-se de saber falar “corretamente”;
·
Demonstram resistências a Língua de Sinais e a cultura Surda visto que
isto, para eles, representa estereotipo;
· Não
conseguiram identificarem-se como Surdos, sentem-se inferiores aos ouvintes;
isto pode causar muitas vezes depressão, fuga, suicídio, acusação aos outros
Surdos, competição com os ouvintes, há alguns que vivem na angustia no desejo
continuo de serem ouvintes;
· São
vitimas da ideologia oralista, da inclusão, da educação clinica, do preconceito
e do preconceito da surdez;
· São
Surdos. Quer ouçam algum som, quer não ouçam, persistem em usar aparelhos
auriculares, não usam tecnologia dos Surdos;
· Estas
identidades Surdas flutuantes também apresentam divisões; por exemplo, aqueles
que têm contato com a comunidade Surda, mas rejeitam-na, os que jamais tiveram
contato, etc....
4. Identidades Surdas Embaraçadas
As identidades Surdas embaraçadas são outros tipos que
podemos encontrar diante da representação estereotipada da surdez ou
desconhecimento da surdez como questão cultural.
· Esta
identidade não consegue captar a representação da identidade Surda, nem da
identidade ouvinte como fazem os flutuantes;
· Sua
comunicação é por alguns Sinais incompreensíveis às vezes;
· Não tem
condição de dizer onde moram, seu nome, sua idade, etc...
· Não tem
condições de usar Língua de Sinais, não lhe foi ensinada, nem teve contato com
a mesma;
· São
pessoas vistas como incapacitadas;
· Neste
ponto, ouvintes determinam seus comportamentos, vida e aprendizados;
· É uma situação
de deficiência, de incapacidade, de inércia, de revolta;
· Existem
casos de aprisionamento de Surdos na família, seja pelo estereotipo ou pelo
preconceito, fazendo com que alguns Surdos se tornem embaraçados
5. Identidades Surdas de Transição
Estão
presentes na situação dos Surdos que devido a sua condição social viveram em
ambientes sem contato com a identidade Surda ou que se afastaram da identidade
Surda.
· Vivem
no memento de transito entre uma identidade para outra;
· Se a
aquisição da cultura Surda não se da na infância, normalmente a maioria dos
Surdos precisa passar por este momento de transição, visto que grande parte
deles são filhos de pais ouvintes;
· No
momento em que esses Surdos conseguem contato com a comunidade Surda, a
situação muda e eles passam pela des-ouvintização, ou seja, rejeição da
representação da identidade ouvinte;
· Embora
passando por essa des-ouvintização, os Surdos ficam com seqüelas da
representação, o que fica evidenciado em sua identidade em construção;
· Há uma
passagem da comunicação visual/oral para a comunicação visual/sinalizada;
· Para os
Surdos em transição para a representação ouvinte, ou seja, a identidade
flutuante se da o contrario.
6. Identidades Surdas de Diáspora
As
Identidades de Diáspora divergem das identidades de transição. Estão presentes
entre os Surdos que passam de um pais a outro ou, inclusive passam de um Estado
brasileiro a outro, ou ainda de um grupo Surdo a outro. Ela pode ser
identificada como o Surdo carioca, o Surdo brasileiro, o Surdo norte-americano.
É uma identidade muito presente e marcada.
7. Identidades
Intermediarias
O que
vai determinar a identidade Surda é sempre a experiência visual. Neste caso, em
vista desta característica diferente distinguimos a identidade ouvinte da
identidade Surda. Temos também a identidade intermediaria. Geralmente esta
identidade é identificada como sendo Surda. Essas pessoas têm outra identidade,
pois tem uma característica que não lhes permite a identidade Surda isto é a
sua captação de mensagens não é totalmente na experiência visual que determina
a identidade Surda.
* Apresentam alguma porcentagem de surdez, mas
levam uma vida de ou-
vintes;
· Para
estes são de importância os aparelhos de audição, de aumento de som;
· Assume
importância para eles o treinamento do oral, o resgate dos restos auditivos;
· Busca
de amplificadores de som...;
· Não uso
de intérpretes de cultura Surda, de Língua de Sinais etc. (alguns adoram Língua
de Sinais por hobby);
· Quando
presente na comunidade Surda, geralmente se posiciona contra o uso de
intérpretes ou considera o Surdo como menos dotado e não entende a necessidade
de Língua de Sinais de intérpretes;
· Tem
dificuldade de encontrar sua identidade visto que não é Surdo nem ouvinte. Ele
vive como pendulo, ora entre Surdos, ora entre ouvintes, daí seu conflito com
esta diferença.
BIBLIOGRAFIA:
Artigo compilado na integra da Revista da FENEIS - Ano
IV – número 14 abr./jun. de 2002. Autora Gladis Perlin
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